
Sejam felizes, pá!
You are under my power...
Gosto da árvore de Natal e do presépio, do azevinho e do frio lá fora; das pessoas cá dentro. A azáfama dos preparativos, a prova antecipada dos pratos e guloseimas que vão desfilar... adoro!
Conservar o espírito de Natal leva-nos à nossa infância, aos prazeres genuínos e inocentes de quem descobre a cada ano a felicidade de um momento... perpetuado no tempo. Não importa quantos passaram ou passarão, a cada Natal eu volto aqui!
Não posso deixar de agradecer a hospitalidade. Mais uma vez brotou o "bem-receber" tão Português. Kinha e Rita, boa onda... sem stress, afinal, o stress mata! Quando puder retribuir o favor, fá-lo-ei... quem sabe na Vila. Beijos para essa casa de doidos Salamanquina.
Como todos, certamente, sabem, as células têm a capacidade de se reproduzir. Tudo começa com uma única célula. A primeira divide-se em duas, essas duas em quatro, e assim por diante, em mitoses sucessivas. Depois de apenas 47 duplicações, há dez mil triliões de células no vosso corpo que estão prestes a transformar-se num ser humano (este número é apenas uma suposição, perdem-se muitas células no processo. De qualquer maneira este número foi proposto por Margulis e Sagan, em Microcosmos). A velhice não é, então, mais do que perdas de informação genética nesse processo de replicação celular, perdas essas que se traduzem em mudanças morfológicas que nos fazem ficar mais vulneráveis a doenças, com rugas no rosto e no corpo, enfim, numa palavra, que nos fazem envelhecer.
Se pensarmos no nosso corpo como um casulo necessário à sobrevivência da nossa consciência, não deixa de ser curioso que esse casulo se vá reciclando, albergando-nos, à nossa conciência, que se vai desenvolvendo e acumulando informações e experiências, evoluindo a própria personalidade... é como um contínuo de personalidade num descontínuo de material celular, base do primeiro. Chega a ser até paradoxal. Muito engraçado.
A Natureza "deu-nos" uma dádiva: a inteligência. Com ela vem grande poder, sem dúvida, mas também grande responsabilidade. Num primeiro plano cabe-nos a responsabilidade de teorizarmos acerca da nossa própria condição, como seres vivos, acerca do nosso posicionamento, como habitantes de um planeta num determinando ponto da galáxia, um dia, talvez, do universo... ou seja, conhecermos a Ciência que acumulámos desde o início... é nossa responsabilidade fazê-lo e esta tarefa pode não ser uma seca, por isso leiam...
Obviamente que o facto de ter andado a noite inteira de peito ao léu... com 6ºC de mínima... não é alheio à minha fanfaria no dia seguinte. 1 dia de recuperação foi necessário. No dia seguinte, muito monumento, que abunda na cidade, coca-cola na esplanada da Plaza Mayor (vão roubar pá estrada que nosotros estamos em crise) e luta à noite, desta feita com armas recarregadas. Esta noite foi verdadeiramente aproveitada, tudo a que temos direito... acabámos num bar/discoteca(?) a entornar gin tónico como gente grande... não me lembro de muito mais.
A sic... um espectáculo de comiseração humana, talvez "O" espectáculo de comiseração humana. À frente da camera uma apresentadora de olhos embargados pela dor e uma ou, nos dias bons, duas criancinhas deficientes. Pronto, temos programa até à uma da tarde! Querem que aponte o dedo ao principal responsável pela depressão generalizada no nosso País? FÁTIMA LOPES! Obrigado por isso Fátima... À medida que enfiam uma estrutura metálica nas perninhas da criancinha de modo a poder, dali em diante, usar a casa-de-banho sozinha (Fátima Lopes verte uma ou outra lágrima a bem das audiências), caminhamos no fim do programa para uma rubrica intitulada "Tertúlia Côr-De-Rosa", que, por acaso ou nem por isso, é a côr preferida de um dos seus participantes: Cláudio Ramos. Meus amigos, não se enganem, aquela gente faz vida daquilo... é um selo de ouro no fim do programa. Só falam merda, atrás de merda, atrás de merda, mas com convicção e profissionalismo, que é o que assusta... eles falam a sério. Ridículo! Além do gajo ventríloquo, o do pato...
E a TVI... a TVI, um rabiló recalcado junta-se a uma saloia lá da santa terrinha com um riso capaz de partir o vidro mais resistente. Uma fortuna em isolamentos de cortiça no estúdio. Pelos vistos ainda há empresas em Portugal que não implementam cortes orçamentais. A isto junta-se uma Lili Caneças a "bitaitar" sobre as declarações recentes do Papa... medíocre! A análise filosófica surge, melhor do que a de Nietzsche: Deus está, realmente, morto... porque não fulminou, de imediato e em directo, a loura de 345 anos de idade (mas com uma pele de 157).
Bottom line: Ridículo... e acho que acordei um bocado irritado.
Afinal, foi o sonho que levou os Portugueses à formação de um império onde o Sol nunca se punha (falando do sonho e integrando o saudosismo, vêem como é inevitável), "a vislumbrar um destino que não cabe na terra-mãe"(M.A.F.). Foi o sonho que comandou a vida, quando se revelava o único plano de verdadeira liberdade... concretizada mais tarde. O sonho pode, realmente, ser o plano experimentalista necessário à consequente acção.
"O MEU PASSADO É TUDO QUANTO NÃO CONSEGUI SER. NEM AS SENSAÇÕES DE MOMENTOS IDOS ME SÃO SAUDOSAS: O QUE SE SENTE EXIGE O MOMENTO; PASSADO ESTE HÁ UM VIRAR DE PÁGINA E A HISTÓRIA CONTINUA, MAS NÃO O TEXTO". Fernando Pessoa
São estes conceitos que me fascinam e continuarão a fascinar no imaginário Português. A saudade que o fadista traz na voz embargada... "nos lábios a queimar de beijos, que beijam o ar e mais nada...", nesta placa de rua, entre roupas e uma bandeira...
A saudade que se faz sentir nos pequenos movimentos de alguém, acender um cigarro, levantar-se para ir ao banho na praia... A saudade que inspira à poesia de quem teve e agora, ainda que momentaneamente, não tem, a saudade portuguesa no geral e minha em particular...
P.S. Foto de João Maria, também ela com uma história própria...