terça-feira, julho 24, 2007

Tempos de "velhos do restelo"

"(...) O que cumpre afirmar, pelo contrário, é que os alfacinhas, sem qualquer hesitação, depois de analisarem com cuidado todos os programas e todos os candidatos, decidiram actuar em consciência.
Vejamos o que diziam esses programas e esses candidatos:

a) Que Lisboa tem sido mal governada e está, neste momento, à beira da bancarrota;
b) Que Lisboa não tem espaços verdes suficientes, pelo que é uma cidade poluída e suja;
c) Que Lisboa tem um urbanismo desastroso, desarrumado e caótico que demorará gerações a rectificar;
d) Que Lisboa tem uma gatunagem terrível e que é preciso mais polícia e mais segurança;
e) Que Lisboa tem demasiadas casas devolutas e que ninguém lá quer viver por ser demasiado cara;
f) Que Lisboa tem injustiças sociais flagrantes que urge corrigir sob pena de se aumentar, ainda mais, a insegurança;
g) Que Lisboa tem obras piores que as de Santo Engrácia, como, por exemplo, as do Metro do Terreiro do Paço;
h) Que Lisboa tem lá o Governo de que ninguém gosta.

Ora, face a isto - e crendo os lisboetas que todos, sem excepção, como cumpre aos políticos, apenas lhe diziam a verdade - que restava a um cidadão consciente fazer?

a) Votar no Costa e reforçar a presença do Governo?
b) Votar no Carmona e reforçar o descalabro financeiro?
c) Votar no Negrão e recear a bancarrota?
d) Votar na Roseta e permitir mais insegurança?
e) Votar no Ruben e temer a revolução?
f) Votar no Zé e apostar no embargo?
g) Votar no Telmo e arriscar-se a não ver nada?
h) Votar num pequeno partido e desperdiçar um voto?
Ou, a única, verdadeira e clara hipótese de recusar a situação absurda e sem saída em que caímos - fugir para longe e esperar que a crise passe?

Pois foi esta última a solução escolhida pela maioria dos lisboetas. Fugir da bancarrota, da poluição, do mau urbanismo, da insegurança, do custo de vida, da desigualdade, das obras inacabadas, do Governo e da oposição!
Quem pode levar a mal tal escolha?
Quem pode condenar tal sageza?
A felicidade, como deves saber, caríssimo novel presidente da Câmara, é o que qualquer humano almeja. A felicidade não deve ser negada. E, tendo em vista os resultados, todos os lisboetas que não votaram tiveram, ao menos, esse dia feliz."

Comendador Marques de Correia
In Única/ Expresso nº1812 de 21 de Julho de 2007

segunda-feira, julho 16, 2007

Segunda-feira

Não pares para pensar. Vive à margem daquilo que, realmente, és. Se o fizeres, se parares, passam-te à frente, aqueles que não o fazem. Se o fizeres, sê rápido! Sem introspecção, os momentos vão acumulando, mais e mais e mais. Com sorte os do princípio da pilha que criaste são esmagados pelos posteriores. Sem sorte descompensas, és levado no turbilhão de quem és. Largas o leme, demasiado pesado, já não viras. Sê autómato, restringe-te aos momentos de felicidade, rápidos e efémeros, intervalos na continuidade da existência. Não pares para os gozar! Ficas para trás... Não tentes ver a teia por trás daquilo que és, de onde és, ou como és. Quem o fez viu-se à margem, foi idolatrado fora do seu tempo, morreu, às vezes literalmente, outras figurativamente. Que ténue a linha da felicidade relativa! Caminho estreito o da vivência feliz. Cuidado, não te desequilibres... podes cair.

quarta-feira, julho 11, 2007