terça-feira, janeiro 09, 2007

Ai Florbela

Não costumo fazer minhas as palavras dos outros, no entanto roubem-vos uns momentos e leiam atenta e pausadamente:

"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!"

Ai Florbela, que pena ser "poeta" da prosa e não da musicalidade do verso... Um dia tentarei.

6 comentários:

Claricinha disse...

"Só quem embala no peito / Dores amargas e secretas / É que em noites de luar / Pode entender os poetas / E eu que arrasto amarguras / Que nunca arrastou ninguem / Tenho a alma pra sentir / A dos poetas também"

Desconheço o autor, mas gosto muito de ouvir a Mariza a canta-lo!

AlémTejo100Lei disse...

não tenho nada / mas tenho tenho tudo
sou rica em sonhos / mas pobre pobre em ouro

Floribella, 2006

Foka_bock disse...

Claricinha, nem a propósito, esse poema é de mestra Florbela também...

AlémTejo100Lei disse...

Do Mário Gil conheço um:

"Ando a comer caracóis / não quero pastéis nem rissóis / porque o que eu quero é comer caracóis"

Não me cheira que seja o mesmo Márinho

Claricinha disse...

nem de proposito, estamos em sintonia :)

antónis disse...

Não bastava o Luis Represas ter dado voz aquela pessegada, em tom embevecedor de quarentonas nostálgicas, e funcionários publicos deprimidos, chega agora o unânimemente reconhecido clone do cavalheiro, armado ao trovador, e pespega aquilo em pose romântica para impressionar o pito. Este poema, diga-se, é um hino à ressabice sexual, e topa-se à légua que, quando escreveu aquilo, ninguém espancava devidamente a Florbela há muito tempo. Senão vejamos: "É ser maior (maior o quê, ou melhor, onde ????) do que os homens" seguido de "morder como quem beija" - caramba, Florbela, sua libidinosa!!! Mais adiante: "É ter de mil (meia-duzia não chegava????) desejos (sic) o esplendor" (isto é, à Florbela agradavam-lhe p'raí mil gajos,mas havia um que lhe agradava especialmente, e que lhe punha as hormonas em ebulição) "É ter cá dentro (onde, Florbela????) um astro que flameja" (que é como quem diz, um reluzente falo) "É ter garras(...) de condor" (gostamos de meter a unha, sua maluca...). Por fim: "É ter fome (nós sabemos...) (...) as manhãs de oiro e de cetim (caminha macia ao acordar, com um viking loiro ao lado, mas que grande safada me saiu esta Florbela !!!!). Oh meus amigos, ao pé deste desvairio erótico, os versos do duo "Ele & Ela" são simples cançonetas dignas de monótonos festivais da canção. Se o Represas tivesse todo isto, estava era quietinho, e tinha deixado os "Catita" musicar devidamente esta trova de alcova.

Mas já que toda a gente deixa um versinho, eu também faço e jeitinho e cá vai um da minha lavra.
Como é sabido, nutro um especial carinho por poesia de WC, daquela escrita na porta, num momento de arrebatamento lirico - escatológico.
É sabido também, inclusivé pelo dono deste blog, que por vezes eu próprio dou largas à minha veia poética, quando o meu lirismo supera o alívio, e tenho o telemóvel à mão.

Este despretensioso verso terá cerca de 3 ou 4 anos, e em tempos terá corrido por alguns telemóveis de amigos. cá vai:

Cai a noite na pradaria
Que susto vem aí o bicho papão,
Emerge, temeroso, p'la minha pia,
Pálido com o fador do meu cagalhão(e sim fador e não fedor, capricho de poeta...)

Este versinho é que eu queria ver musicado pelo Represas, ou pelo inenarrável André Sardet.
Era consideravelmente mais divertido que aquelas baladecas delicodoces que invadem inapelávelmente o espaço radiofónico do éter lusitano. Não há paciência...