Gosto mais de fado cantado por mulheres, primeiro que tudo por uma questão musical. A guitarra portuguesa pede um timbre mais alto, a sua sonoridade, ainda mais na afinação de Lisboa, pede um registo vocal mais agudo. As mulheres fazem melhor parelha. Fazem mais sentido juntas. É, portanto, primeiramente uma questão musical e estética.
Além disso, parece-me mais o Universo delas, com grande pena minha. O fado cantado por homens, na minha perspectiva, só chegou ao âmago da questão, em termos de interpretação, muito recentemente.
Como manifestação cultural que é, é engraçada e desesperante a forma como acompanha os estereótipos sociais, entre eles está o de género. O fado cantado por homens, antes de uma determinada geração, era contido, à falta de melhor palavra. Acabavam por ser contraditórias a interpretação e a mensagem, não havia extravagância vocal que dá ao fado o boost para um nível artístico superior. A extravagância vocal aliada ao poema sentido traduzir-se-ia sempre numa interpretação que causa ressonância na assistência. A partir de certa altura, a imagem social mudou e o fado cantado por homens ultrapassou completamente esta questão, a ponto de 3 ou 4 fadistas homens estarem nas minhas preferências, todos acompanhados de extravagância vocal quando o fado o exige, além de que um homem desesperado é uma imagem mais poderosa até do que a de uma mulher desesperada, pelo facto do homem ser estereotipicamente sinónino de controlo racional de qualquer situação, ainda.
No entanto, o fado na voz de uma mulher habita muito mais no seu universo: de saudade (porque são elas que ficam ou ficaram enquanto os homens partiram), de ciúme, de sina, de amor. Bem sei que os sentimentos são, por definição, unisexo, mas tenho a certeza que as vivências, as percepções e consequentes cognições serão diferentes e, no caso das mulheres, mais contextualizadas.
A poesia no fado é, na sua maioria, escrita por homens. A génese é masculina mas a tradução é mais verdadeira na personagem feminina. É estranho, mas é assim.
quarta-feira, maio 16, 2012
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