quinta-feira, maio 10, 2007

O cheiro

O pó do giz desce lentamente, percorrendo a distância da letra ao suporte do apagador. Cheira a plasticina e a cola.
O cheiro pejado de sentimentos ambíguos abre a porta à memória, umas felizes, outras de terror, outras, ainda, inacessíveis à mente, há muito apagadas e sem hipótese de reconstrução a imitar a realidade que percorri.
Fecho os olhos e inspiro fundo, na esperança de as reavivar... Abro os olhos, estou do outro lado! Como? O tempo pregou-me a maior das partidas... passou por mim, pôs-me do lado de lá! Não esqueço, não posso. Inspiro uma e outra vez. Fecho a porta, é altura de ir.

3 comentários:

AlémTejo100Lei disse...

Parabéns meu!

Claricinha disse...

É estranhíssimo estar do lado de lá! Agora somos nós que chamamos a atenção quando fazem barulho, por mais que tentemos fugir ao papel da "chata que tá sempre a mandar fazer cenas", por mais que respiremos fundo porque sabemos ainda muito bem o que é estar do lado deles, chega uma altura que não dá mais para contar até 10, projectamos a voz e temos logo um conjunto de caras apreensivas a pensar: "que seca, são todos iguais!"

Vasco Figueira disse...

É darmos por nós a cumprir à risca papéis que outrora apenas observávamos, muitas vezes sem entender os seus propósitos. No fundo, crescer é darmos por nós a (finalmente) compreender os adultos.