quarta-feira, maio 31, 2006
Rede Record... de asco num só programa!
Não vou comentar a substituição do canal GNT pela rede Record. Vou, isso sim, falar-vos de um programa intitulado "Em que posso te ajudar", da responsabilidade da sobejamente conhecida IURD, em horário compreendido entre a 1h e as 3h da manhã. A ajuda espiritual apregoada pelos pastores deste programa resume-se ao negativismo da doença e da "maldade", razão única dos problemas vividos. Esta intervenção, num país como Portugal, encontra os nutrientes sociais perfeitos ao seu desenvolvimento (disfuncional).
A centração na doença e no problema é de uma acutilância atroz, indo, em tudo, contra os parâmetros de uma psicologia positiva que vários psicólogos, integrados em linhas teóricas especificas nas quais me incluo, tentam apregoar. No início havia necessidade de catalogar a disfuncionalidade, percebê-la, de modo a ajudar quem dela padecia. Hoje em dia, num alargamento da intervenção psicológica, quer-se, também, o estudo da normatividade dos processos, quer eles sejam psicológicos, familiares ou sociais. Claro que as pessoas não são, ou não deveriam ser, o cúmulo da passividade, absorvendo tudo o que lhes é transmitido. No entanto uma transmissão pública exige responsabilidades sociais e intelectuais por parte de quem a faz. Não enganem as pessoas...
Aqui deixo, por isso, o meu grito de revolta contra esses senhores que, em nome de uma espiritualidade maior, "agridem" as pessoas, ainda por cima à vista de todos os que os sintonizarem. Um nojo em termos terapêuticos, asqueroso em termos humanos, hipócrita em termos espirituais... Tenho dito!
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3 comentários:
Hoje em dia na área da intervenção em psicologia não faz sentido a centração no problema e nas dificuldades do cliente, há que olhar para as capacidades e potencialidades e tentar optimizá-las. As pessoas não são redutíveis ao rótulo psicopatológico, cada um de nós é um mundo e por mais perturbado que esteja tem sempre recursos e capacidade de resiliência. Esse tipo de programas enganam, como tu tão bem disseste, e fazem com que se procure respostas no exterior, pior do que isso atribuem a causa dos seus infortúnios a uma espécie de maldição ou entidade demoníaca!
Isto levanta uma questão ainda mais importante que é a da ética da inteligência, em que os "espertos" não têm pejo nenhum em se aproveitar dos "burros". E isso tem paralelos em todo lado, e claro, na política.
E a religião é apenas mais uma das arenas em que a batalha (inglória e triste) acontece, por ser justamente algo que lida com as respostas às perguntas mais essenciais que se prendem com a própria existência, mesmo que essas respostas pura e simplesmente não existam. Não interessa, são respostas que estamos, por via da nossa evolução cognitiva, programados para buscar.
O que é que há a fazer? Educação, educação e educação.
Companheiro, amigo, palhaço! Isto passa-se no mundo inteiro há décadas. Não é novidade o aproveitamento da desgraça alheia, seja por religiões, políticos ou mercenários. O nascimento de muitas igrejas (em especial no Brasil e nos EUA) tem como âncora a pobreza, o desespero e o baixo nível educacional dos potenciais fieis.
Deixai os coitados ligar e falar na TV se isso lhes alivia o sofrimento.
Nem tudo se resolve através de psiquiatras, psicólogos e antidepressivos. Guarde-se estes para quem realmente necessitan deles.
Às vezes basta um bocadinho de atenção e para isto não é preciso pagar consulta.
Viva a IURD!
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