quinta-feira, novembro 23, 2006

Agora nós

A maior parte das células do nosso corpo não dura mais de um mês, mas há algumas excepções notáveis. As células do fígado podem viver durante anos, embora os respectivos componentes possam ser renovados com alguns dias de intervalo. As células do cérebro duram a vida inteira. Quando nascemos são-nos atribuídos cerca de cem biliões, calculando-se que se perdem cerca de 500 destas células por hora, portanto, se tiverem de pensar muito, é melhor não perderem nem mais um segundo. A boa notícia é que os componentes individuais das nossas células do cérebro são renovados constantemente, o que significa, provavelmente, que nenhum dos componentes celulares terá mais de um mês. De facto, já se aventou a hipótese de não haver um único bocadinho de nós - nem sequer uma molécula perdida - que já nos pertencesse há nove anos. Pode não parecer assim, mas a nível molecular somos todos miúdos.



Como todos, certamente, sabem, as células têm a capacidade de se reproduzir. Tudo começa com uma única célula. A primeira divide-se em duas, essas duas em quatro, e assim por diante, em mitoses sucessivas. Depois de apenas 47 duplicações, há dez mil triliões de células no vosso corpo que estão prestes a transformar-se num ser humano (este número é apenas uma suposição, perdem-se muitas células no processo. De qualquer maneira este número foi proposto por Margulis e Sagan, em Microcosmos). A velhice não é, então, mais do que perdas de informação genética nesse processo de replicação celular, perdas essas que se traduzem em mudanças morfológicas que nos fazem ficar mais vulneráveis a doenças, com rugas no rosto e no corpo, enfim, numa palavra, que nos fazem envelhecer.



Se pensarmos no nosso corpo como um casulo necessário à sobrevivência da nossa consciência, não deixa de ser curioso que esse casulo se vá reciclando, albergando-nos, à nossa conciência, que se vai desenvolvendo e acumulando informações e experiências, evoluindo a própria personalidade... é como um contínuo de personalidade num descontínuo de material celular, base do primeiro. Chega a ser até paradoxal. Muito engraçado.

A Natureza "deu-nos" uma dádiva: a inteligência. Com ela vem grande poder, sem dúvida, mas também grande responsabilidade. Num primeiro plano cabe-nos a responsabilidade de teorizarmos acerca da nossa própria condição, como seres vivos, acerca do nosso posicionamento, como habitantes de um planeta num determinando ponto da galáxia, um dia, talvez, do universo... ou seja, conhecermos a Ciência que acumulámos desde o início... é nossa responsabilidade fazê-lo e esta tarefa pode não ser uma seca, por isso leiam...

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